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Test Drive Unlimited 2 e a tristeza sobre rodas em estradas sem destino



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Cerca de 40 minutos depois de ter começado Test Drive Unlimited 2, sabe o que eu já tinha? Eu já tinha ganhado fãs em Blur, acumulado créditos em Gran Turismo 5 e arriscado recordes em duas ou três corridas de Need for Speed: Hot Pursuit. Tinha subido uns níveis em Dirt 2 e já estava sendo convencido a comprar um Xbox novo só para poder jogar o ainda ignorado Forza Motorsposrt 3, tamanho era o desvario provocado pela dúvida: fui eu que perdi a noção do asfalto como subsistência ou foi Test Drive que comeu sucrilhos com cianureto?

Onde estavam os cenários paradisíacos, as máquinas dos sonhos, o componente social que daria vida ao MMO de corrida mais ambicioso desde… Test Drive Unlimited? Essa promessa de “uma vida vencedora” estava nos trailers oficiais e dominava o período pré-lançamento de Test Drive 2. Mas o que lhe aguarda na versão final são momentos desesperadores a bordo de carros aleatórios rodando por uma cidade cenográfica montada às pressas. Tem uma trilha sonora bacaninha, você diz. E eu respondo que com um pouco de sorte você consegue trilha sonora bacaninha em qualquer reportagem de saúde no Fantástico de domingo. Fazendo da deselegância uma arte, Test Drive Unlimited 2 se consolidou como o sapatênis dos jogos de corrida.

Os produtores reconheceram que Test Drive 2 tinha problemas, pediram desculpas, lançaram patch de correção e prometeram uma expansão grátis para curar os ferimentos. Mas a questão, massa rubro-negra, não é técnica, por Cristo Nosso Senhor Jesus Cristo.

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O MMO da Atari tentou ser cool mas não passou na porta. Reuniu elementos típicos de outros tantos jogos de corrida, embrulhou tudo num pacote mal acabado e mandou entregar na ilha de Ibiza, o paraíso da curtição bronzeada, o olimpo da vida noturna sofisticada. Lugar que, na versão de Test Drive, acabou variando entre cenários rurais com plantações sem vida, trechos urbanos com cara de maquete e bairros afastados que lembram os loteamentos novos da cidade do interior que você usava para aprender a dirigir e executar atividades não tão lícitas assim. É a vastidão vazia e árida que – ninguém pode reclamar – já havia dado sinais de fracasso em Fuel, outro mundo-aberto-com-promessa-de-liberdade-e-vitória-suprema. Mas era só a promessa, não se esqueça.

O jeitinho reality show americano de ser

A jornada rumo aos “60 níveis de evolução” começa numa festa, beira da piscina, galera descolada dançando. Você escolhe um personagem, sai caminhando com ele e em breve tem uma boa surpresa: é seu aniversário, e uma gatinha lhe deu uma Ferrari de presente. Você dirige alguns minutos, explode uma luz branca, era tudo um sonho. Você, na verdade, é manobrista e está atrasado com o carro de uma apresentadora de TV. Ela manda você embora, e dois segundos depois muda de ideia. Se você levá-la a tempo até o estúdio em que ela precisa gravar o programa, você vira piloto e passa a competir nas provas transmitidas por esse programa. Onde estaria o Away de Petrópolis quando mais precisamos dele?


Os próximos passos são escolher o primeiro carro, tirar uma licença, enfrentar provas, comprar roupas, mudar o visual, ter uma “vida social”. Enquanto isso, ganhar dinheiro, acumular pontos de experiência, descobrir novas lojas, ir abrindo o mapa e trombando com outros corredores para eventuais desafios multiplayer. Tudo isso visitando personagens que parecem ter sido inspirados pela participação de Toni Garrido em Malhação – episódio que envolveu a negociação de um Chevette. Ou seja: não é um patch de correção ou “um PC melhor” que vão resolver os problemas de Test Drive 2.

Nos estabelecimentos comerciais, onde você pode comprar carros, casas, roupas e até fazer cirurgia plástica, a visão passa a ser em primeira pessoa, provando que menus são uma invenção ultrapassada. Numa espécie de mod com influências de The Sims, Second Life e PlayStation Home, você caminha pelas lojas “explorando o ambiente”, “sentindo a experiência” e fazendo escolhas drásticas que variam entre “comprar um carro” ou “voltar para a rua”. Momentos dramáticos que podem ensinar muito a Heavy Rain.

Com o rádio ligado, você tem acesso a músicas rotuladas como “alternativas” em duas estações: Hariba Radio e Road Rock. E a vozes no estilo DJ Atomika, de Burnout Paradise. A sonzeira (que tem até algumas preferidas da casa) só é interrompida por propagandas engraçadinhas travestidas de crítica social, que não lembram em hipótese alguma aquele jogo da Rockstar Games, ok? Os menus dentro do trailer em que você mora lembram Dirt 2. O mapa (até o momento a coisa mais bonita do jogo) é semelhante ao de Need for Speed: Hot Pursuit. E a agência do Bradesco no Second Life é, com certeza, o exemplo de “agitação” que mais se aproxima do clima de Test Drive 2.

‘Lonely loner, on a lonely road’

Oh, mas Test Drive 2 tem 3 mil quilômetros de estrada, tem uma lista com 100 carros. Mesmo? Então ele deixou de ser um jogo sem inspiração para ser um jogo sem inspiração que exige um percurso de 20 km para você chegar até uma loja de roupas e comprar um terninho antes da próxima corrida. Mas não ligue já. No caminho você ainda pode ver casas repetidas por todo o cenário, cruzar com “carros da cidade” rodando aleatoriamente e até ver um avião rasgando o céu ao fundo, para provar que a fila anda e a vida não pode parar. Os carros “dos sonhos” não representam nenhum sentido de conquista, ao contrário do que temos em qualquer outro jogo de corrida. Aqui, são só mais um empecilho nesse mundo aberto que traz mais exigências do que recompensas.

Só havia duas maneiras de piorar Test Drive 2: levar para lá o trânsito de São Paulo ou trocar o personagem principal pelo Sonic. Ainda não sei como escapamos dessa.

Mas onde vamos chegar? Quando alguém diz que, hoje em dia, só existe lugar para superproduções certeiras (Red Dead Redemption) ou jogos indies únicos (Minecraft), o que esperar dos 90% de outros jogos que ocupam o terreno intermediário do qual Test Drive Unlimited 2 parece ser a epítome perfeita?

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O momento mais marcante nas cerca de 7 horas pelas quais me aventurei foi um desafio multiplayer online: “detectamos um mau elemento fugindo por aí, você quer ajudar a pegá-lo?”. E lá fui eu, já com um carro de polícia, junto com outros jogadores correndo atrás do tal “errado na fita”. A breve e intensa perseguição foi bem sucedida – o cara foi preso. Mas não sei como, e nem por quem. Porque, apesar de eu ter ganhado os créditos, no momento da prisão eu rodava montanha abaixo, rumo ao mar, depois de bater em algum morrinho artilheiro do cenário. O segundo momento inesquecível foi acompanhar os diálogos dos outros jogadores. “Esse jogo é muito bugado, trava toda hora”, dizia um, “Mas é melhor que Need”, respondia outro, “Vamos ficar aqui esperando o cara voltar, ele caiu de novo”, informava um terceiro.

Se GT5 é sobre carros, Need é sobre velocidade e Burnout é destruição, Test Drive é sobre ignorar as evidências e viver numa enganadora zona de conforto com recompensas mínimas. De nada adianta ter um cenário gigantesco, carros famosos e jogadores compartilhando a mesma pista em desafios online, se o conceito básico (correr com prazer) não funciona. Test Drive 2 prova que em 2011 ainda é possível fazer um jogo de corrida sem graça, sem emoção e sem motivos para ignorar o que antes seriam apenas “pequenos obstáculos técnicos”. E assim vamos: com um sapatênis brega rumo à “night muito louca” na balada de Ibiza.

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